CONVERSAS DE CAFÉ - QUANDO AS HAVIA
O Senhor António lava as chávenas. Na verdade, desinfecta. Álcool gel, comprado nos indianos, que afinal são bengalis, ali perto da derradeira loja de bengalas, que, dizem, fechará em breve porque vão morrer os velhos todos, e os novos não chegarão a velhos, e assim jamais precisarão delas, pois se finam num piscar de olhos apenas pelo sopro daquele vírus, que, dizem, por aí anda muito inteligente, portanto, diligente, a ceifar como Peste Negra. Foi aquilo que o Senhor António ouviu, ou ouviu aquilo que outros antes ouviram, e depois relatam, já nunca bem se sabendo onde tudo começou nem quem falou em primeiro nem em último, muito menos em terceira mão; pela boca do Senhor António, sem apelido, não ficaríamos elucidados, porque pouco ou nada fala, além do bom dia, boa tarde, são um euro e cinquenta cêntimos pelo pastel de nata e bica, e coisas do género. Outra atitude, julga ele, não se esperava dele. O café, estabelecimento, é dos clientes; eles que falem e se entendam, até porque muitos são especialistas em assuntos complicados, e a sua pessoa, António, vai apenas apanhando aqui umas advertências, ali umas recomendações, acoli uns conselhos. Foi, aliás, por uma advertência, escapou-lhe se provinda da britânica University of Oxford ou da burquinabê Université de Ouagadougou, que trocou o álcool gel pelo Sonasol para lavar as chávenas… Entretanto, na mesa junto à janela, dois fregueses levantam a voz, ou assim parece ter sucedido, até para dar jeito à narrativa que se inicia, portanto…
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